domingo, 28 de dezembro de 2008

Eu não gosto de poemas.

Na verdade, é mais complicado do que parece. Eu até gosto de poemas, mas não agüento ficar lendo um livro de poemas. Gosto de Castro Alves e de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) e um pouco de Manuel Bandeira, mas sentar e ler a coletânea da vida de algum deles é especialmente chato. Isso provavelmente porque (claro) eles nem sempre acertavam a mão...

Sei lá. Simplesmente não tenho paciência para poemas longos, com rimas preciosas e conteúdo etéreo, flutuante e platônico. Eu gosto de "Porquinho-da-Índia" e "Pneumotórax", do Manuel Bandeira; gosto do "Navio Negreiro" do Castro Alves; gosto daqueles "Começo a conhecer-me. Não existo.", "Grande são os desertos...", etc. do Álvaro de Campos; gosto das pérolas de sabedoria do Mário Quintana do "Caderno H"... E enumerando os poemas e poetas que já li e gostei, chego à conclusão de que gosto de poemas em prosa praticamente.

Poemas em prosa me parecem muito mais genuínos e naturais. Talvez eles não tenham sido tão trabalhados e pensados como os feitos por sapos-tanoeiros, mas os sentimentos são mais plausíveis.

Os únicos poemas legítimos que aturo são em forma de música. Esses, curiosamente, amo.:)

[A seguir, Álvaro de Campos. Como não gostar?]

"(...)
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido."
(Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa...)

E este, que merece publicação integral...

Poema em Linha Reta
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo.

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
"

-------

É estou melancólica, por decorrência das "contabilidades" de final de ano, por decorrência do vestibular e de outras maravilhas.

-------

Feliz Natal!
E um ótimo Ano Novo pra todo mundo!:)

Feliz Ano Novo" meio Japonês, mais ocidental...

Jaa, nee!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Você sabe que tem algo errado quando...

... a página inicial do Terra lança uma enquete perguntando qual o crime que mais chocou em 2008.
Aliás a imprensa deita e rola quando tem um desses megadesastres ou crimes. É impressionante como, de repente, surgiram casos de "meninas Isabelas" por aí...

Não que os crimes não devam ser noticiados; o problema é todo o sensacionalismo que se usa para isso. As fotos, as entrevistas exclusivas com fulano ou sicrano que algum dia na vida já viu a vítima ou os acusados... Tudo é manchete. E com que finalidade? Alertar a sociedade sobre os malucos que existem por aí? Não sei se funciona ou se gera mais medo, porque parece que os jornalistas só trabalham com isso e com tudo o que o ser humano pode fazer de mal ao outro.

Sadismo. Criar caso em cima de situações onde alguém saiu ferido é uma forma de alimentá-lo. Aliás, nossa sociedade parece ser movida a sadismo. Ou alguém consegue uma explicação melhor para a existência de filmes como "Jogos Mortais" e "O Albergue", e programas de "sobreviventes"?


o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

... futebol vira desculpa para sair quebrando tudo e matando pessoas.
Você quer perder um pouco de tempo e grana assistindo a uma partida negociada por homens carecas, barrigudos, que não jogam por conta própria e que não tem outra coisa a não ser dinheiro, vá lá...

Agora, sair depredando ônibus - fora o resto da cidade, que vira uma lixeira - e matando torcedores do outro time, tenha dó!
Nem pra sair da vida de merda que vivem tem tanta energia quanto pra defender uns jogadores (e principalmente uns cartolas) que ganham mais que eles...


o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

... eu falo no que há de errado no mundo.
Significa que estou sem inspiração.
;D

Jaa! o/