sexta-feira, 12 de junho de 2009

Carta de Não-Suicídio

[por Luísa Vanik]

Destino essa pequena carta a aqueles que culpo diretamente pelo meu não-suicídio: minha família e amigos.

Informo-os desde já os motivos pelos quais venho me não-suicidando. Começando pela razão supracitada: o fato de vocês serem tão imperfeitos e não me compreenderem durante cem por cento do tempo. Isso me obriga a procurar cada vez mais pessoas que tenham algo em comum comigo. Pessoas que preencham as lacunas deixadas por vocês. Assim, meu círculo e minha variação de tipos de amigos aumenta, do mesmo modo, cada vez mais; conseqüentemente crio mais laços, algo que praticamente me obriga ao não-suicídio!

Outro motivo para esse ato (ou não-ato) é o mundo. O mundo é deprimente, considerando sua situação geral. Veja bem: as pessoas se odeiam, vivem na miséria material e na miséria intelectual ou espiritual. Elas fazem mal aos outros e a si próprias e depois não entendem porque suas vidas andam para trás (ou simplesmente param). Aí sinto um aperto imenso no coração, um misto de raiva e vontade de fazer algo para melhorar o mundo – então vem à minha cabeça a louca idéia do não-suicídio, novamente...

O que também me provoca essa vontade insana é a minha própria situação. Não nasci rica, superdotada, bonita e plenamente satisfeita na vida. E, como se não bastasse, o passar do tempo não me espera decidir por onde começo! Agora vocês entendem, não é? É inevitável essa fixação pela idéia de não conceder a morte a si mesmo. Acabo sentindo um crescente desejo de buscar tudo o que não tenho...

Por último motivo – e talvez seja este o mais poético -, tomo a janela de meu apartamento de terceiro andar. Neste exato momento, olho-a com um pensamento insensato. Lembro-me de pessoas que vivem a alguns seis ou sete andares acima do meu e também olham para a janela, mas com outro tipo de idéia. E então reflito: onde está a poesia em mergulhar no concreto sujo das ruas, em meio a carros barulhentos e transeuntes indiferentes? Ainda prefiro minha idéia não-suicida de olhar para o céu e imaginar mil coisas que possam me ajudar a alcançar as nuvens alaranjadas do pôr-do-sol, sem ter que para isso chegar perto do trânsito e dos passantes.
É, parece-me mais razoável o meu doido suicídio ao contrário. Talvez meu próximo passo seja propor um não-suicídio coletivo...

Sem mais considerações a fazer, saúdo-os com um enérgico “olá, mundo cruel; aqui estou para desafiá-lo (e sensibilizá-lo, se o senhor permitir)”...


(Publicado na Antologia do Velho Casarão da Várzea, impresso do CMPA, no ano de 2006, quando eu estava no 1º ano do Ensino Médio.)

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Texto antigo, mas vale ainda.
Ainda mais depois que duas cadeiras diferentes decidem cobrar "Os Sofrimentos do Jovem Werther", do seu Goethe...:S
O Werther é um chato, assim como todos os indivíduos com tendências suicidas. Tanto que a minha interpretação para o suicídio do Werther não tem nada a ver com o amor impossível pela Charlotte. É só egoísmo mesmo. Tanto que ele resolve se matar próximo ao Natal, com uma sordidez impressionante, pra dar um impacto maior. Ele chega a se regozijar em antecipação só de pensar nas lágrimas que a sua querida Lotte vai derramar por ele. Ah, vá a merda. Isso não é amor.:P

Mas esse até é um bom livro. Tem alguns momentos de reflexão e de análise do amor bastante encantadores.:)

Jaa!o/

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Ninguém que ficar só

[por Luísa Vanik]

Existe, nas sociedades humanas, uma cultura de supervalorização do relacionamento conjugal. Em decorrência disso, as relações entre indivíduos freqüentemente acabam se estabelecendo sobre os princípios da hipocrisia e da comodidade, o que resulta em sentimentos de insatisfação emocional, e pode criar para as pessoas uma impressão negativa de uma associação humana que deveria ser encarada com prazer e alegria.

A idéia de que “socialmente correto” é nunca estar sozinho tem explicação racional. A combinação de indivíduos sempre foi uma estratégia biológica, com a finalidade de principalmente gerar descendência; desde a Antigüidade Oriental até tempos mais recentes, sabe-se que as uniões, para os nobres, também tinham parte no estabelecimento das relações de poder e, para o povo, representavam uma estratégia de sobrevivência no mundo. Essas concepções de casamento como “necessidade” ou como “ferramenta de domínio” continuam, mesmo que inconscientemente, arraigadas no imaginário humano. A sociedade de hoje concebe o relacionamento entre duas pessoas como prova irrefutável de competência fisiológica; afinal, se uma pessoa é capaz de se unir a outra, ela cumpre teoricamente o seu papel na perpetuação da espécie. Por conta disso, criou-se o mito de que o “casal” seria uma entidade superior ao “indivíduo”, e, portanto, para que um sujeito se realizasse como ser humano, seria necessária a sua união a outrem.

Por conseqüência dessas idéias, muitas pessoas assumem relacionamentos sem estrutura para tal, crentes de que se completarão com a outra pessoa, independente da qualidade dos sentimentos envolvidos. Na prática, esses indivíduos frustram-se ao descobrir que os sentimentos de necessidade, curiosidade e interesse que os uniram não são suficientes para manter uma relação baseada em carências individuais e reconhecimento social. Por comodidade, muitos prosseguem com a convivência. Disso decorrem as crises de auto-estima, os assomos de egoísmo e as traições, como forma de punição ao outro – por não corresponder às expectativas de tornar feliz o seu par – e a si próprio – por não ter sido capaz de alcançar a satisfação plena, o que deveria ter ocorrido pelo simples fato de ser cumprida a convenção de se unir a alguém.

O culto ao pareamento de pessoas deve ser, portanto, analisado com certo cuidado. Embora a tendência de associação entre indivíduos cumpra um papel importante na História da humanidade, o costume de ver o casamento como atestado de competência social e como reduto de soluções e felicidades frente às carências e questões individuais pode ser nocivo para todos os envolvidos. Uma relação que requer a anulação de sentimentos individuais não sobrevive aos menores atritos.



Fazia um tempinho que eu não tinha que escrever uma dissertação...@_@
Devido às comemorações de Dia dos Namorados, acabei tendo idéia para esse tema.
Antes que venham as pedras, as cruzes e os insultos, um esclarecimento: não sou contra relacionamentos (o que seria uma completa burrice, se fosse o caso). Sou contra relacionamentos convencionais, que se dão por moda, necessitam de aprovação alheia e se baseam meramente na idéia de "vamos fazer, já que tá todo mundo fazendo". Tenho até um certo romantismo por acreditar em amor único e verdadeiro; contudo, não consigo acreditar que seja possível encontrá-lo na primeira esquina disponível.
Fora isso, sou solteira e mal-amada - e uma das tantas que se deprime com o Dia dos Namorados.;)

Jaa!o/