quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Corrosão

Acho que não existe ultraje maior do que aquele de quando uma pessoa que você gosta (e que, até então, você supunha que gostava de você) se associa a outra pessoa que já lhe causou um mal tão grande que não há alternativa senão querê-la longe de qualquer instância da sua vida.

Você se pergunta quando foi que se tornou tão insignificante, tão desimportante; quando foi que você virou o lado a ser ignorado.

Não importa o quanto eu seja racional. Eu quero que a parcialidade das pessoas penda para o meu lado. Eu quero que a escolha seja feita a meu favor. Eu não quero ser sempre a última na lista de prioridades das pessoas; eu não quero ser a última na minha própria lista de prioridades.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Torta de Cerejas




   Era um dia bonito como qualquer outro dia bonito. O sol queimava minha pele descuidada e sem nenhum protetor solar porque, francamente!, usar protetor solar nessa cidade subtropical de merda é um insulto ao meu senso comum desorientado que acha que o uso de protetor solar se limita ao verão e à praia.
   Eu tinha acabado de descer do ônibus, um transversal que parecia que ia se desmontar, de tanto solavanco e barulho e nheco-nheco. O pedaço da torta de cerejas no fundo da sacola, mumificada em papel alumínio, vinha sacolejando conforme eu caminhava. Cuidado nunca foi o meu forte, ainda mais com coisas renegadas. Dobrei uma esquina, atravessei a rua seguinte. Faltava pouco, faltava pouco. As pessoas passavam e eu nadava no sentido oposto. Só mais uma quadra, e mais uma rua, e ploft.
   Em parte por culpa do salto, em parte porque não sei caminhar e pensar ao mesmo tempo, tropecei e caí quase que de cara no chão, salva apenas pelos meus cotovelos. Ainda bem que fui de jeans, e não de vestido!, pensei. Ainda bem. Eu não queria olhar em volta, tinha pessoas por perto, então eu sabia que não ia querer olhar em volta. Isso não aconteceu, nada aconteceu, continuem a nadar, foi só um arranhãozinho nos cotovelos. Foi só um arranhãozinho. A sacola nem se despendeu do meu braço, a torta continuou lá no fundo, talvez um pouco mais amassada, mas foi só um tropeção e ainda bem que eu fui de jeans.
   Eu já estava de joelhos, quase me levantando quando alguém estendeu a mão, e consegui ficar em pé de novo. Agradeci, a gente sempre agradece e reza pra não acontecer de novo, mas não fiquei muito reparando no rosto, acho que era um cara de terno e gravata -- não sei por que, não gosto de encarar pessoas desconhecidas por muito tempo, algo me diz que posso acabar sendo mal interpretada. Agradeci de novo e continuei rumo à minha casa, e ele continuou na direção oposta.
   Acho que dei uns dois passos com a pulga atrás da orelha. Então virei para trás, para ver o cara de terno mais uma vez, e percebi que ele fazia o mesmo. Desvirei rapidamente. Nenhum de nós voltou ao ponto de intersecção, cada um seguiu, mas agora eu tinha certeza quase absoluta.
   Larguei as chaves de casa em cima da mesa, ao lado da sacola com a torta, e sentei no sofá.
   Devo ter ficado uma meia hora ouvindo aquele zunido da chaleira até guardar tudo nas gavetas imaginárias, levantar e ir desligar o fogão. Nada melhor que uma boa água fervente com ervas goela abaixo para ajudar a torta de cerejas esmagada, sangrenta e disforme a descer pela minha garganta seca e contraída.
   Eu não ia chorar. A essa altura, acho ridículo chorar, acho objetivamente estúpido chorar, e esse é o tipo de coisa que só se faz no banho, longe da civilização e sem dar soluços altos, porque se ecoar pelo poço de luz, alguém pode ficar sabendo. Nesse tipo de situação, a única coisa aceitável a se fazer é tapar os ouvidos, ignorar o ruído ensurdecedor, fechar os olhos, ignorar as luzes piscantes, e engolir uma múmia de torta de cereja intragável com um chá exterminador do passado e de cordas vocais.
   Talvez se a cidade fosse maior, se as minhas rotas de fuga fossem mais diversas, se eu limitasse ainda mais meu campo de visão dos joelhos alheios para baixo, talvez assim eu estaria livre de encontrar conhecidos no meio do caminho. Essa não era nem a primeira vez.
   E ele? Será que lembrava? Provavelmente não, nem era tão importante. O cara de terno era só mais um desses que ia chegar em casa depois do insólito encontro, tirar os sapatos e a gravata, abrir a geladeira por uma lata de refri ou cerveja, ligar a TV pelo noticiário -- e depois pelo futebol --, desligar o computador e pensar “é, era aquela mina bizarra mesmo”, ou talvez nem isso; talvez ele fosse só ir dormir sem pensar em nada relacionado a encontros do acaso, destino, relações cármicas do universo ou falha na matriz. Talvez aquela viradinha para trás tivesse sido instintiva, nada de mais.
   Eu tentei desenrolar o alumínio da torta devagar, mas sempre tive essa coisa de tentar combinar a velocidade interna à externa e falhar miseravelmente. O alumínio rasgou. Eu dei uma mordida na ponta da torta. Aquele gosto doce, doce demais pro meu gosto, quase artificial de tão doce, inundou meu paladar. Nunca gostei de cereja, mas a minha tinha se esmerou tanto em fazer essa torta que eu tive pena de dizer que não queria um pedaço, dois pedaços, levar o que sobrou pra casa. Ela se deu ao trabalho de misturar a massa, forrar a fôrma, comprar as cerejas em calda, controlar o forno, e depois ainda de embrulhar o pedaço restante e de colocá-lo no fundo daquela sacola de supermercado... Talvez seja algo que as pessoas façam sem intenção, mas pra mim, é quase como uma chantagem emocional, como se a única saída fosse aceitar uma parte de todo esse trabalho sem fazer cara feia.
   Eu engoli a torta em grandes pedaços, tomei o chá em grandes goles, meio arrepiada e a contragosto. Era uma questão de honra terminar aquilo ali, no momento, e não jogar no lixo e depois pensar “que desperdício!”, nem guardar na geladeira e me enganar “daqui a dez anos eu certamente vou tomar o gosto pela cereja em calda”. E que alívio quando engoli o último naco daquele negócio! Fiz uma bolinha com o alumínio e a arremessei no lixo.
   Será que o cara do terno me reconheceu? Eu espero que não.
   Fui tomar um banho.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O gato mais mordaz da cidade

Aproveitando que ontem (22/02) foi o Dia do Gato no Japão, resolvi inaugurar a seção de literatura japonesa hoje.
Eu queria começar por um livro fininho (porque eu sei que vocês têm medo de livros compridos), mas não vai dar. Eu vou é começar pelo meu preferido, por algo que eu recomendo com carinho – e se eu gosto é porque também não é assim tão difícil de ler. Acho.

O livro de hoje se chama Eu sou um gato (吾輩は猫である Wagahai wa neko de aru), de Natsume Sôseki.
"As patas de um gato parecem não existir, pois por onde passam jamais emitem ruídos incômodos."
A história é baseada em uma premissa muito simples: o mundo sob o ponto de vista de um gato que não tem nome e nasceu em um beco escuro e úmido, mas que sabe que é melhor que eu, você, e todos nós juntos.

Depois de vaguear por alguns lugares e ser enxotado por aquilo que se chama de “criatura humana” (palavras do gato), ele chega na casa de um professor que decide deixá-lo ficar. E o gato decide ficar.
Daí em diante temos a análise constante – e ferina – do professor Kushami (“espirro”) e dos outros humanos que moram na casa ou passam por lá.

O professor Kushami é um sujeito de poucas palavras, com uma certa aura de sabedoria professoral, especialmente quando se tranca no gabinete para ler. Mas o gato tem uma visão privilegiada – e muito ócio sem culpa – para entrar sorrateiramente no cômodo e verificar que o professor lê duas ou três páginas dos compêndios de conhecimento para logo em seguida cair no sono e ainda babar em cima dos livros. Seu estilo de vida faz com que o gato oscile entre considerá-lo excêntrico ou medíocre - mas que tenha certeza quanto a caracterizá-lo como um tanto glutão e bastante neurastêmico.

É interessante notar que ao longo da história, ele vai percebendo no professor algumas características felinas, enquanto o próprio gato vai se identificando com os humanos, embora nunca perca o seu orgulho felino, a ponto de ele afirmar que "(...) em minha cauda carrego não apenas deuses, budas, Eros e Tanatos, mas também a técnica especial passada de geração em geração de enganar toda a humanidade". Tudo isso para se vangloriar daquela habilidade que os gatos têm de poderem se infiltrar nos lugares sem serem necessariamente notados.
Habilidade mais ou menos fatal para pombos gordos de cidade grande.
Pela visão crítica do gato, também acabamos conhecendo a família do professor, constituída pela esposa, por três filhas (Tonko, Sunko e Menko) e por uma empregada (Osan). Ele não é nada favorável na descrição delas, uma vez que, segundo o próprio relato, não só nenhuma demonstra um pingo de afeto pelo gato, como também elas o maltratam infinitamente.
Isso considerando que ele devia ser mais ou menos assim logo no início do livro.:(
Um personagem particularmente engraçado é o Meitei, o amigo pedante do professor, aquele que sempre sabe de tudo, sempre tem uma história de iluminação espiritual, além de conhecimentos ilimitados em nomes e citações de artistas, cientistas e personalidades - e muitas mentiras criadas para rir da cara dos crédulos (como o professor). Pelas palavras do gato: "o esteta era o tipo de homem cujo prazer era enganar as pessoas, descarregando sobre elas coisas sem pé nem cabeça". É o personagem mais sem noção do livro e não perde uma oportunidade de debochar dos outros.

Entre os amigos mais próximos do professor também tem o Kangetsu, um estudante de física, ex-aluno do professor Kushami, agora tentando alcançar o nível de doutor com uma tese sobre "a dinâmica do enforcamento". Ele é o pivô de uma das maiores intrigas na qual o professor Kushami se mete.
Intriga do tipo que envolve espionagem, difamação e guerra psicológica.
O Kangetsu vira objeto de desejo (?) de uma mocinha, Tomiko, filha do empresário Kaneda, que mora em uma mansão na mesma rua que o professor. A fim de saber que tipo de sujeito é o Kangetsu (e se ele é adequado para a sua filhinha), a senhora Kaneda faz o que é mais lógico: suborna a rua inteira para obter informações sobre o rapaz. Quando resolve dar o "carteiraço" no professor Kushami, ele não se impressiona, o que a deixa muito irritada. O professor e o Meitei até decidem liberar umas informações sobre o candidato a noivo, mas só na base da humilhação e das ironias que a senhora Kaneda não compreende nem gosta. O que importa para a mãe é que o Kangetsu vire doutor de uma vez, se ele pretende casar com a honorável patricinha Tomiko...

Só que a senhora Kaneda tem uma característica que chama muito a atenção do gato, do professor e do Meitei. Ela é nariguda (o nome da personagem é Hanako; hana = nariz). E embora eles só comentem o assunto longe da presença da madame, as paredes têm ouvidos.
E são de papel.
O que acontece é que a senhora Nariz sai da casa do professor muito ofendida por não ter tido um tratamento condizente com a sua condição social, e resolve travar uma pequena guerra psicológica com ele. Essa guerra inclui mandar vizinhos para espionarem e gritarem impropérios para o professor, entre outros. (Mas o professor Kushami e o Meitei também não deixam muito barato com uma excelente discussão reflexiva sobre narizes...)

Vale muito a pena acompanhar a vida do professor Kushami, e as interações dele com a família, os vizinhos fofoqueiros, os alunos mal-educados, e os amigos bizarros.

A graça do livro, na minha opinião, é justamente esse julgamento irônico feito por alguém que não possui restrição alguma, ou obrigação com a espécie humana. (E, nesse sentido, dá para comparar com a situação em Memórias Póstumas de Brás Cubas, do Machado: um defunto que já não tem mais nenhuma daquelas restrições sociais então pode contar a história com o nível de crítica que lhe apraz.)
"O Gato-zumbi", uma história de desprezo por Sôseki de Assis.
Os capítulos do livro foram publicados um a um na revista literária Hototogisu ("Cuco"), então é possível sentir uma certa independência entre um capítulo e outro. A parte da intriga com a família Kaneda e o Kangetsu é que acaba se estendendo por mais de um capítulo, mas muitas das peripécias do gato e do professor ficam restritas a um capítulo só.

Dificuldades: a quantidade de citações a intelectuais/estetas/artistas/estadistas que você provavelmente não conhece e o contexto em que as citações aparecem. O tradutor fez o que pôde com as notas de rodapé, mas não dá pra disfarçar que as filosofias e os discursos do trio principal são coisas que fazem mais sentido para quem tem uma mínima bagagem acadêmica. Em alguns trechos a voz do gato nem aparece, pois o foco vai para os devaneios retóricos dos três amigos. (O que me lembra os momentos Quincas Borba dentro do "Memórias Póstumas...".)

O livro se divide entre as próprias experiências do gato e da família, as discussões do trio Kushami/Meitei/Kangetsu, a intriga com os Kaneda e os comentários ácidos do gato sobre tudo isso. As minhas partes preferidas são basicamente essas que o gato resolve comentar algum assunto humano, porque ele nunca nos perdoa.
Rezo todos os dias para que eles não consigam polegares opositores...
Dizem que o Sôseki se descreveu no personagem do professor - o que é interessante, porque a visão que nós temos desse alter-ego é externa. O Sôseki também é o gato. Teríamos aí um legítimo livro de autoajuda?:D

Aproveitando a deixa, na próxima postagem eu falo um pouquinho sobre o autor desse livro, Natsume Sôseki.

  

Eu sou um gato (吾輩は猫である Wagahai wa neko de aru) 
Estação Liberdade
Tradução de Jefferson José Teixeira
Do site da editora


(Para vocês que lêem japonês, achei ISTO durante a minha pesquisa, e agradeço enormemente se algum de vocês souber de uma fonte para ver alguma dessas adaptações.:3)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Bloqueios literários e mimimis de quem quer se eximir da responsabilidade

Eu gosto de escrever resenhas. Afinal, quem não gosta de explicar para os outros sobre assuntos dos quais gosta (ou odeia), né?
Mas eu confesso que evitava fazer resenhas de livros porque, ãhn, não me sentia no direito de discutir literatura. Não me levem a mal: eu gosto de literatura. (Gosto tanto que fui cursar Letras.) No entanto, sempre tive a impressão de ser uma “parede” em discussões de literatura. Ou minha interpretação é óbvia demais, ou eu não entendo nada mesmo, ou a minha interpretação é estranha etc. Geralmente só com uma segunda leitura é que eu consigo depreender alguma coisa que preste do livro - e isso me deixa meio angustiada. Eu sinto que deveria ter uma capacidade mais ampla (e eficiente) de compreensão, uma bagagem literária maior, ou até, sei lá, ser mais articulada para me explicar.

Também muito me aborrece que o pessoal mais fanático da literatura decide que você só é completo depois de ler o cânone deles e de desistir de leitura porcaria*. E eu gosto de leitura porcaria!
(*Literatura porcaria: best-sellers, literatura policial, romances de banca, ficção científica...)
Apesar de que isso foi um pouco além do conceito até pra mim, a rainha da tolerância literária (not).
Fora o fato de eu ter um ritmo de leitura bem lento e de ter muito mais coisa na pilha de espera do que propriamente na pilha de “lidos”. Mas acho que isso é até normal para nós que gostamos de ler.
Talvez eu tenha essa resistência para falar sobre literatura porque falar sobre literatura é se posicionar, mostrar aos outros as suas observações irrelevantes (e ignorâncias) e sair um pouco da zona de conforto. E aprender a não tratar por Otto Maria Carpeux quem te trata como o crítico literário do Diário Gaúcho.
Internas.
O que dizer então de literatura japonesa? Eu só fui ler alguma coisa de literatura japonesa na universidade, porque algum dia a gente tem que criar vergonha na cara, né?
Meu primeiro livro foi A Casa das Belas Adormecidas (眠れる美女 Nemureru bijo), de Yasunari Kawabata – sobre o qual lembro de ter lido uma resenha (me preparo para uma enxurrada de mimimis de ensino superior) na Veja. Mas isso é outra história.
Ao longo da vida acadêmica, fui lendo mais coisas; coisas excelentes, coisas mais ou menos. Só que fora do mundinho da universidade – e mesmo no mundinho da universidade – percebi que poucas pessoas conheciam algo de literatura japonesa. E também não há tão pouca coisa assim publicada aqui no Brasil. (É pouco; mas tem, sim, o que ler!)
Exceto pr'as professoras e colegas que acham que a gente é maluco
por insinuar que existe literatura fora da Europa e da América.

Talvez seja porque a leitura - como um todo - não é um hábito muito difundido aqui no nosso querido país. Talvez por n outros motivos. Mas talvez porque vocês realmente nunca ouviram falar em autores e obras e tudo mais.
Ou talvez porque um vórtice tenha te sugado para uma realidade em que não existe Japão.
Então eu decidi que, já que eu não posso consertar a falta do hábito de leitura - ou qualquer outra coisa sobre a qual eu não tenha controle -, pelo menos vou tentar contribuir para a divulgação do que existe por aí - e que eu conheço.

Estou estudando a criação de um blog (“outro, meodeosdocéu!”) só para isso – um com um título mais SafeForWork, para você não ficar tachado na empresa como “aquele cara que é chegado em sado-masô”.
Por enquanto, fico por aqui. Até porque pornografia atrai visualizações de página, e vai que eu consiga converter alguns tarados em leitores de literatura japonesa? Tanizaki agradece.

O nome dessa nova seção será:
A bem dizer, eu já tenho minha primeira resenha praticamente pronta, e ia colocá-la nessa primeira postagem. MAS! Postagens longas cansam, eu sou prolixa, e tenho que aprender a dividir melhor o conteúdo dos textos. 
E aquele livro... merece mais do que ser uma sub-seção de outro texto. :)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A zona de prostituição e a zona de amizade: Respostas

A zona toda começou aqui, ou na postagem anterior. Fui responder um dos comentários e o trambolho ficou tão gigante que tive que criar esta nova postagem.


@Viktorius: "Muito bom ler uma opinião feminina a respeito do tema =) Eu já meditei muito a respeito do tema (atire a primeira pedra aquele que nunca foi "friendzoneado") e um site (que uma amiga me mostrou) acabou me mostrando uma visão bem interessante. Googleia por "Ladder Theory". A coisa toda faz certo sentido. Dá uma lida e depois comenta comigo (ou com o teu público, via blog). Como tu te expressa bem, fico curioso com a tua opinião. =)"

Fui no site, li toda a teoria, entrei em depressão e senti uma ânsia em me auto-mutilar, mas é uma teoria interessante e com alguma base. 
Então a postulação é de que os homens têm um critério! (Baseado em exclusão de mulheres não-atrativas e no ranqueamento das mulheres que "eu conheço e que não são minha mãe e minha irmã" - Freud e Kafka à parte.) 

Bom, não dá pra negar toda a diferença biológica, o fato de que o humor das mulheres para sexo varia de forma cíclica, enquanto o dos homens é uma coisa, hmm, infinita e permanente, segundo nos dizem. Mas eu acho que hoje, com todas as variações hormonais ocasionadas por pílulas e por frangos adulterados (xD), a questão talvez não seja nem essa; eu pessoalmente acho que tem mais a ver com como cada sexo manifesta e gerencia o desejo sexual. 

Nos homens é meio evidente quando eles estão interessados fisicamente; talvez uma coisa que eles ignorem é que a parte fisiológica do desejo nas mulheres também se manifesta de forma incontrolável. Mas não de forma evidente. E eu acho que essa questão de manifestação meio que influi na questão do gerenciamento. Para os homens é uma resposta TÃO clara a um estímulo, que eles interpretam como algo que só pode ser significativo - e que TEM que ser "resolvido" com urgência. E pra uma urgência, qualquer coisa serve.
Para nós, a resposta é muito mais sutil, então não podemos basear nosso julgamento com base nesse fator - o que nos dá mais espaço para avaliar o resto.

Achei bem infeliz ele colocar "dinheiro" e "poder" como sinônimos (e em 50%) na parte dos critérios femininos. Tudo bem que os dois tem uma correlação forte, mas definitivamente o que as mulheres notam mais é poder (e poder, em "autoajudês" é algo mais como autoconfiança). 

Óbvio, um homem rico não vai ter que se curvar para quase ninguém, em comparação com um cara que trabalha em um emprego qualquer com chefes, colegas, investidores, traficantes pais de aluno. É uma opção atraente porque alguém que não se curva a ninguém também não tem metade dos problemas de confiança que um homem comum tem. Um milionário não vai ter com muita freqüência aqueles dilemas do tipo "mando meu chefe tomar no meio do cu por ser um babaca e vou pra rua? ou fico quieto e mantenho o emprego - e fico me achando um covarde pelo resto da vida?". 

O dinheiro pelo dinheiro talvez seja considerável porque a educação de muitas meninas ainda gira em torno dessa coisa de que o casamento gera uma estabilidade financeira - o que é uma merda, porque os pais minam a confiança da menina em si própria de tal modo que ela acredita que VAI TER que ser sustentada por alguém eternamente (e, pior, que ALGUÉM vai ter que sustentá-la pelo resto da vida).

Acho que o critério que os homens mais enxergam com estranheza é aquele da competição, já que o critério básico masculino aparentemente é o inverso. Quanto menos um homem aparenta nos querer, mais nós o queremos, ou algo assim. Ponham-se nos nossos lugares: nossa gama de escolha é infinita, supondo que homens só pensem em sexo e que, de alguma forma, nós estamos na escada deles em algum ponto. Quando um homem demonstra interesse óbvio e irrestrito, nós pensamos "aff, mais um daqueles milhões de zés que só vem conversar com nossos peitos!" (dramatização). Quando um homem não demonstra interesse, nós pensamos: "olha só, alguém que dá pra conversar de forma racional e confortável" - algumas vezes com o adendo "será que tem algo errado com meus peitos? será que é gay? será que eu engordei?". Digamos que é um critério de desempate; o homem que ignora nossos atributos físicos na maior parte do tempo é um homem que, na nossa cabeça, consegue gerenciar instintos com maestria, de maneira que a maioria não consegue. Gerenciar instintos é meio que uma habilidade em falta (sério, os homens dão muita bandeira quando querem algo e eu não 'tô nem falando da cintura pra baixo). Deve ser questão de treino, reclusão, meditação e tal. É importante esse gerenciamento porque é a nossa garantia de que o homem não vai nos perseguir 24h por dia dizendo que nos ama com a intenção óbvia de que nós ofereçamos sexo em agradecimento à devoção. Se ele não tiver tanto interesse assim, pelo menos ele vai canalizar as energias para outras atividades e deixar que as coisas aconteçam de forma mais natural. E, diferente do que o autor da teoria prega, "desinteresse" não é o mesmo que "prática de violência doméstica" ou "abuso verbal". Desinteresse é desinteresse. Mulheres que procuram desculpa para violência são, no mínimo, doentes. E eis um fato: sim, mulheres também fazem julgamentos errados sobre homens.

Eu ainda gostaria de acreditar que nem tudo é assim tão genérico e lugar-comum como os ditados e a sabedoria popular ("Como é que uma multidão de ignorantes consegue fazer essa coisa chamada sabedoria popular?", como diz o Millôr). Em todo caso, mesmo que seja verdade que nenhum dos seus amigos consiga viver sem relacioná-la com sexo em algum momento, eles não podem relacioná-la o tempo inteiro - fora as namoradas deles (mulheres sexualmente superiores) e a própria escolha das mulheres (em não dar trela para todo homem interessado).
Então, fica aí o site para vocês, curiosos, entrarem em depressão também: 

@Pam Lima: "Adicionarei esse texto a lista de "porque casar com a Malu" ^^ Concordo com pelo menos 90% dele e teria que reler pra lembrar quais são os 10% - mas em fim, especialmente essa história de FRIENDZONE, que além de ser uma piada que teve graça só nas primeiras 30 tirinhas com o Snape, também é muito autocomiseração. A gente já entendeu que cês só levam pé na bunda, agora parem de chorar."

Já vou avisando que só caso se o cônjuge me garantir estabilidade financeira. E um aposento só para os meus livros.:D
Aposto que os 10% de discordância envolvem aquele trecho em que eu afirmo que o Arnold pode engravidar. Mas nisso ninguém pode me convencer do contrário! Aquela barriga é de um homem que pariu uma criança.:O
Bom, é muito triste ser jogado na friend zone, mas é igualmente triste ter que dispensar um cara que se declarou (só porque você sabe que ele não vai fazê-la feliz e você não vai fazê-lo feliz), é triste a sua lista de amores platônicos que nunca aconteceram(ão), é triste ser usada de estepe por caras idiotas, e é triste uma porção de coisas no amor. Se não, não teria tanta literatura em cima de amor trágico. Acho que o mais triste de tudo é a sua família dar o contra, você simular a morte, o seu amado se matar de verdade, e você se matar de verdade. Isso sim é hardcore de triste.

@Lux: "Ah, os posts da Maru. Adoro. =D Que chato. Concordo tanto que não tem nem o que dizer além disso. =P"

Não, senpai, não concorde tanto! Complemente-nos com a sua sabedoria de senpai sempre que possível.:)
Honradíssima pelo comentário!;)
(E será que eu devo deixar perguntas para aumentar a interatividade?)

@kissi-chan: "Putz, adorei esse post Malu!!!! Muito bom mesmo. Assino embaixo hehehehe"

Yay!\o/
E reitero o que disse para a senpai: complemente-nos!;)
(Sério, vou fazer perguntas, que nem aqueles professores que pegam a chamada e chamam por nome para responder!xD)

@Ramon A. Alves: "Bom dizer que adorei o post seria um tanto estranho (quando na verdade a palavra "friendzone" cutuca minha ferida juro não sei porquê... Fiuu, fiiiuuuuu...) mas o post é muito legal, geralmente isso se da para com pessoas inteligentes... Parabéns!!!"

Oi, Ramon! Seja bem-vindo - e obrigada!:D
É, em algum ponto da vida, todos acabamos na friend zone de alguém... O negócio é seguir em frente.:)


E vocês? Já foram friendzoneados? Já friendzonearam? Acham que a friend zone é o lugar onde o Werther planta seus repolhos até hoje? Acham o Daniel Henney gatão? Acham que se eu fizer perguntas vou ser embalada a vácuo dentro do meu próprio blog?:D



Bom, durante a redação da postagem passada, acabei lendo três textos que me deram uma visão geral do que a auto-ajuda atual diz sobre a friend zone, especialmente para os homens. Não posso concordar com tudo, mas o termo "Justfriendistan", do primeiro texto, vale o esforço do autor. Se tiverem interesse...

http://www.askmen.com/dating/curtsmith_150/162b_dating_advice.html
http://articles.chicagotribune.com/2007-01-12/news/0701120408_1_new-friends-attraction-friendship

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A zona de prostituição e a zona de amizade

Sem pretensões de tentar entender como funciona essa coisa de mente masculina/feminina e de relacionamentos, inicio uma postagem cheia dos achismos e dos preconceitos.

Ano passado, em um desses convescotes com meus amigos, os meninos decidiram discutir prostituição, e de como sexo é uma necessidade masculina, e de como as mulheres de família fazem cu-doce pra chegar nos finalmentes. Nesse grupo, só tinha uma amiga além de mim, que ficou, com muita razão, irritada com as conclusões. "Então a vida de vocês é guiada pelo pinto?", ou algo assim.
Fuzzy Handcuffs no "Safe Search moderado".
Não fui de muita ajuda para apoiar a frente feminina, no entanto.:( 
Nunca consigo expressar uma opinião coerente no momento da discussão (posteriormente, ok; na hora, não). E, pra ser bem franca, eu gosto de ouvir as opiniões alheias, especialmente quando elas oferecem uma visão masculina sobre o assunto. (Se é que existe essa coisa de “visão masculina”, e não é tudo “visão pessoal”... Mas não vamos entrar nesses méritos por enquanto.)

Primeiro: eu considero prostitutas como prestadoras de serviço. Longe de achar que elas arruínam casamentos, “seduzem nossos homens”, etc., acho que elas prestam um trabalho que deveria ser pelo menos respeitado. Talvez vocês queiram argumentar com a expressão "de vida fácil", ou dizer que elas poderiam estar fazendo faxina em vez de sair dando por aí, mas de qualquer modo tenho muita relutância em aceitar essa idéia de “vida fácil”. 

Assim como em uma profissão de faxineira você não está livre de ter que limpar um banheiro mais sujo que os estábulos de Áugia, como prostituta você não está livre de ter que fazer sexo com algum sujeitinho repugnante. Nenhum trabalho e nenhuma vida é fácil.
Exceto, talvez, o de zelador da ilha Hamilton. Mas ainda assim... Austrália?
Dito isso, acho que se a sua intenção ao sair com uma garota desde o começo sempre foi a vagina e nada mais, talvez você queira contratar um serviço especializado em vez de ficar choramingando que gastou uma pilha de dinheiro e a mocinha ainda não cedeu. Ou então procurar uma mocinha que seja mais direta. Ou então ser sincero com as suas mocinhas e dizer que é só isso que você quer e nada mais – e esperar que elas concordem com os termos.

A reclamação financeira foi um dos argumentos – de que, no fim, sai mais barato contratar uma prostituta do que ficar gastando em jantares, presentes etc. Ok, sem ingenuidades: existem garotas que estabelecem seus critérios na coisa monetária, querendo que o homem pague tudo por ela, tenha o carro do ano e dê diamantes. Na mesma proporção, existem as que estabelecem critérios outros. Tudo é uma questão de escolha. Se você escolhe uma que gosta de dinheiro, deixe de hipocrisias: você escolheu - e provavelmente está muito confortável pagando os jantares, os presentes e tudo mais, e ainda mostrando para os outros e para ela que você pode pagar.
Em que outro contexto publicidade desse tipo faria algum sentido?
E você pode até reclamar (na verdade não, você não pode reclamar, isso é só um recurso retórico do meu texto), mas esteja ciente de que 50% do mérito lhe pertence. (A mesma coisa vale pra vocês, mocinhas que acham que o tamanho da conta bancária é o que importa. Vocês só estão em um ramo mais refinado da prostituição. Assumam; parem de fingir que não estão empreendendo nada.)
Em resumo, os relacionamentos são acordos. Se os dois lados (ou mais lados) estão cientes dos termos, vão em frente. Sejam felizes - mas não encham o saco alheio. Ninguém é obrigado a ouvir que "ai, o fulaninho não faz isso" ou que "a sicraninha não faz aquilo". Tenham dó, vocês é que se escolheram; resolvam entre si, como adultos que são.

Eu particularmente acho que um cara que procura prostitutas é meio que um fracassado - um pouco menos do que o cara que estupra, mas ainda assim. Em ambas as situações, ele foi incompetente na arte de convencer por meio de sedução (isto é, descartando a sedução com um maço de dinheiro) uma mulher das maravilhosas vantagens de se fazer sexo com ele de livre e espontânea vontade. Sei lá, não pode ser tão difícil.
Até o idiota do vilarejo consegue!
'Tá. Vamos para a outra zona.
Certamente vocês já se familiarizaram com as piadas de “friend zone” através do Memebase, 9GAG, ou seja lá qual o site de humor acessado. Se é que já não se familiarizaram com a própria friend zone antes das piadas.
Friend zone” é aquele lugar escuro e gélido ao qual você é relegado quando se declara apaixonadamente para alguém e a pessoa responde algo como: “gosto de você como amigo/irmão”, "vamos ser só amigos" e tal.
Resumindo o teor desta postagem para os preguiçosos.
O lugar parece ser mais frequentado por homens, embora tenha algumas mulheres lá também... Mas vamos direcionar para o público masculino.

Então você tem aquela amiga que é linda e inteligente, que gosta das mesmas coisas que você e que ri das suas piadas. Vocês são basicamente almas-gêmeas, né? Você vai lá e se declara – e ela prontamente entra na defensiva e o joga na friend zone. Às vezes o drama é estendido, e o manolinho constata não é nem a questão de ela não querer sexo – já que ela vai atrás do cara mais cafajeste de todos para satisfazer seu apetite. E daí alguns garotos entram no poço da autopiedade e se põem a pensar: “porra, logo eu que sou um cara legal!”.

Procurei "cara legal" no Google Imagens.
Do lado de um Johnny Bravo, a imagem de uma pélvis masculina.
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Taí o primeiro problema: qual é a sua definição de “legal”? As pesquisas mostram que 99,9% das pessoas que se consideram “legais” não são legais nem do ponto de vista da lei (fonte). 
Nossa! Você não a molesta quando ela está bêbada ou desacordada? Você ouve os problemas dela como alguém que se importa? Poxa, que legal você é! :O
Só que não. Quanto à primeira pergunta: você está fazendo o mínimo que qualquer mulher espera – seja de um conhecido ou desconhecido, seja de um amigo, seja de um namorado. É uma questão básica de respeito, não de concessão. Se você não faz isso para todas, definitivamente você não é legal. Quanto à segunda, se você escuta os problemas dela porque espera que ela vá algum dia retribuir com sexo, você é um babaca e não há outra alternativa; o epíteto de "amigo" não lhe cabe.

Tem também o tipo que se faz de capacho. Não se faça de capacho. Sério. Mulher (sã) nenhuma gosta de homem que se martiriza por ela. Não sei o que vocês têm aprendido com as nossas comédias românticas, e nossos doramas e nossos mangás shoujo/josei, mas, seja o que for, não é isso de ser excessivamente solícito (nem de ser cafajeste, que fique registrado). Você não tem que consertar o computador/chuveiro/aparelho eletrônico de ninguém sem ser pago. Tenha um pouco de amor-próprio, porra! 

(
Fora que se você ouve ela reclamando do namorado babaca pra você e não manda ela tomar vergonha na cara, então o nível de amizade de vocês também não é lá essas coisas, colega.)
Ajuda se você fizer essa cara e usar essas palavras. E se você for o Tommy Lee Jones.

A história dessa friend zone... bem, existem pelo menos três possibilidades:
1) Você é um cara digno, mas ela está uns níveis abaixo da sua dignidade (a.k.a. “ela não é boa o suficiente pra você”). Opção que muitos presumem erroneamente; poucos, com razão.
2) Você é um cara digno, mas ela está uns níveis acima da sua dignidade (a.k.a. “ela é boa demais pra você”). Opção que alguns com problema de autoimagem presumem; outros, com simples e sincera autocrítica.
3) Vocês dois são dignos, mas não para terem um relacionamento que tenha amassos. E ela se deu conta disso antes de você. Opção que normalmente corresponde à realidade.
De qualquer maneira, todas as possibilidades acabam convergindo no mesmo ponto: alguém nessa relação não quer um relacionamento amoroso. E o que há de errado nisso? Agora todo mundo deve dizer “sim” a toda e qualquer proposta de relacionamento amoroso, por mais capenga que ele venha a ser? Ou é só porque é com você – e porque você é “legal”?

Tive a primeira idéia para essa postagem há algum tempo, quando vi este vídeo. Ele fez um trabalho interessante explicando os lados. Bom, eu lembro que fiquei intrigada com o comentário de “coisa totalmente irracional” que nós, mulheres, aparentemente dizemos quando friendzonamos alguém. 
Seguindo pela lógica do vídeo, que simplifica até chegar em uma equação (“namoro = amizade + contato físico”), não acho que seja irracional se negar a acrescentar a variável “contato físico” em um relacionamento. Contato físico depende de atração física/desejo sexual, coisa que nós, mulheres, não sentimos por todos os homens (!), o que pode parecer um pouco estranho para os próprios homens. 

(Na verdade, acho que esse conceito de que os homens não têm critérios para mulheres no que diz respeito a sexo também não corresponde à realidade. Mas quem sou eu pra questionar a máxima de que “homem só pensa em sexo” yadda yadda yadda....?)
Ou eles pensavam, até levarem flechas nos joelhos.
Daí também tem a questão de sexo ter implicações diferentes para cada gênero. Talvez fosse algo mais simples se dependesse só de instinto e de reprodução, mas desde que entraram a cultura, a moral, a educação etc. na história, não é nem um pouco simples. 

Exceto pelo Arnold Schwarzenneger, os homens não correm o mínimo risco de engravidar depois de tudo – uma implicação do sexo com várias implicações futuras. Tem também a questão do prazer feminino (?); a questão de como a mulher se enxerga; a questão de como cada sociedade/cultura julga a mulher que faz sexo. Mas eu definitivamente não vou entrar nessa área ainda mais polêmica das diferenças e semelhanças, porque acredito (com otimismo - e muita preguiça de detalhar) que qualquer um consegue chegar a alguma conclusão satisfatória sozinho.
O torso de um homem que passou por uma gravidez.
Algumas vezes não é nem isso. Tem o timing: em alguns casos, o cara se afoba; a moça dá aquela resposta padrão, mas o que ela realmente pensou foi "nem conheço direito e ele já quer relacionamento sério?". Em outros, o cara demora demais. Etc.
As possibilidades de explicação para o negócio não vingar são inúmeras. Em nenhuma delas você sabe melhor do que o outro o que ele quer para si mesmo; motivo pelo qual eu sempre achei bizarra aquela história de “mas eu sou perfeito para ela!”. É, colega; talvez você fosse perfeito para ela, mas curiosamente essa não foi a opinião dela.
Eu, por exemplo, tenho certeza de que sou perfeita para o Daniel Henney.
É só a minha ordem de restrição que não concorda.
O fato é que se você se declara para alguém, amigo ou não, existe sempre a chance de rejeição. E por mais que haja esperança, as chances de rejeição vão sempre ser maiores dependendo de quem se declara, a quem se declara e quando se declara.
É doloroso? É. Pra todo mundo. 

Mas essa autocomiseração é pra matar.
Personagens patéticos pertencem à ficção; deixem eles lá, pelamordedeus!
Que vão plantar repolhos com o Werther!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Jogos para donzelas, Shinsengumi e uma resenha

Essa semana, depois de me aventurar a arrumar minhas coleções de mangás, relembrei todo o meu amor por Rurouni Kenshin (ou Samurai X, mas eu sou hipster e uso o nome original). Relê-lo agora que atualizei meus conhecimentos pífios em História japonesa me dá uma outra visão dos fatos.
Sempre tive adoração por aquela seção do mangá em que o Nobuhiro Watsuki fazia um comentário sobre a criação dos personagens, e voltando nelas agora, notei a quantidade de personagens que ele baseou em membros da Shinsengumi – porque não basta colocar os personagens per se.

Senta que lá vem História!
Shinsengumi (新選組 ou 新撰組) , algo como “tropas recém selecionadas”, era um grupo de guerreiros sem mestre que atuava do lado do xogunato, “mantendo a paz” em Quioto. Durante pleno bakumatsu, também conhecido como fim do xogunato (período antes de 1868) – uma época conturbadíssima na História japonesa, que marca o fim de um Japão feudal e o início da modernização e da abertura de portos do país. Eles eram reconhecidos pelo haori (uma espécie de "casaco") azul-claro com montanhas brancas nas mangas, que era considerado um tanto... hmmm, chamativo - cinza e preto sempre foram tendência, olha só.

(Ai, quando eu ‘tava no Ensino Médio fiz um resumo geralzão sobre História japonesa. Leiam lá e não me decepcionem. Um, dois, três e quatro.)

Claro, aquele “mantendo a paz” entre aspas não é por acaso. De um lado, você tinha o Senhor Generalíssimo-sama, o xogum, que mandava e desmandava em todos os outros senhores feudais. E era do lado desse cara que a Shinsengumi estava. 
Do outro lado, você tinha: população revoltada com impostos + senhores feudais oprimidos pelo sistema de xogunato + sentimento de “o xogum não deixa o nosso Imperador mandar em tudo como deve ser”. Não podia dar muito certo. Então, spoiler histórico: a Shinsengumi estava do lado perdedor.

E eles eram mais ou menos assim, só que sem posar para fotos.
Sendo assim, é curioso a quantidade de mitos e histórias que foram criados em torno dessa milícia – que, diga-se de passagem, não era lá muito popular entre os cidadãos de Quioto de sua época. Mesmo o Nobuhiro Watsuki vivia, nas seções de “conversa com o leitor” em Rurouni Kenshin, pedindo desculpas por mudar isso ou aquilo das personagens históricas, ou implorando pra que os leitores não fizessem flamewars acerca das preferências políticas, pra vocês verem, ainda da época do bakumatsu. (Se bem que as piores guerras de impropérios surgem dos assuntos mais absurdos...)

Aliás, sempre achei muito interessante como o mundo editorial japonês transforma até História e personagens históricos em personagens fictícios (bizarros) sem muito escândalo. Seria como – eu pensando em equivalências toscas – se alguém escrevesse um livro em que o personagem principal fosse D. Pedro I, mas como um vampiro bon-vivant que pode saltar entre as eras e, a propósito, em algum ponto ele consegue um Gundam para derrotar as forças portuguesas do mal.

Esse cavalo na verdade é feito de Gundamnium. Por isso que as crianças estão fugindo.
Então... sobre a Shinsengumi foram feitos INÚMEROS jogos, mangás, novelas, filmes, livros,  etc. Em algumas mídias, eles são os personagens principais; em outras, não. Mas eles se fazem presentes mesmo na influência sobre outros personagens - o caso do autor de Rurouni Kenshin sendo o mais conhecido por mim.:D
Já foram dados diversos enfoques também: no talento da milícia em batalhas, nas relações entre os guerreiros (o que me lembra "Tabu", filme que enfoca a questão da homossexualidade), nas relações entre os guerreiros e o mundo de fora da Shinsengumi etc.

Bom, mas como eu cheguei nisso mesmo? Ah, sim. Depois de Rurouni Kenshin, fui pesquisar um pouco sobre a Shinsengumi. Foi assim que achei um otome game chamado Hakuôki: Shinsengumi Kitan nos relacionados .

Para os não iniciados, otome game é o tal do “jogo para donzelas”. É um tipo de jogo em que você começa a aventura entre um grupo de rapazes (com personalidades bem distintas e bem tipificadas), em uma dada situação – que pode envolver cotidiano, vida escolar, vampiros, passado, futuro ou tudo isso ao mesmo tempo (;D). 
Depois de escolher o seu predileto (o príncipe, o esportista, o nerd, o fofinho, o anti-herói, etc.), ao longo do jogo você vai selecionando opções de respostas em menus para ir melhorando seu relacionamento como ele. Até que no fim do jogo você fica com o seu predileto, yay! Ou algo assim. É basicamente um jogo de massagem no ego, em que os personagens masculinos são bonitões, interessantes, e a tratam como uma princesa desde o início (ou não, se você gosta de rapazes “fazidos”). Por exemplo:

"Pelo amor desse jogo, escolha uma opção com contato físico, Ohime-sama."
Opções: 1) Vamos jogar xadrez. 2) Vamos observar as cerejeiras em flor. 3) Vamos fazer algo quente!
 E dependendo das suas opções, da situação e do personagem escolhido, você pode acabar em uma cena como esta:
Jackpot.
Ou como esta:
"Suas habilidades no xadrez me impressionam, Ohime-sama!"
Os chamados “simuladores de namoro” são jogos bem populares entre otakus japoneses, inclusive entre os homens. Nem sempre esses jogos incluem sexo, mas quando incluem são chamados de eroge (abreviação de “erotic game”).
Eles podem ter uma história “original” (que normalmente não é nem um pouco original), ou ser baseados em mangás/animes. 
Por exemplo, o único jogo do gênero que eu já joguei até o fim foi um Love Hina para o console Gameboy Advance. Nesse caso, o jogo permite que você subverta as regras do mangá, e, em vez da chata da Narusegawa, o Keitarô termine ficando com a Mitsune, a Motoko ou qualquer personagem mais interessante que a Naru.:P

Naturalmente, todos os otome game têm um personagem masculino principal, mas você é livre para escolher entre o mundo de homens que aparece na sua jornada. O harém é seu. :D
Mas, em resumo, até a Shinsengumi já virou tema principal de jogo de donzelas. (O chonmage, aquele penteadinho desgraçadamente feio dos guerreiros, é que não teve muita popularidade entre os character designers... Nem entre as otome. Pergunto-me por quê.)

Foi o que comecei a jogar anteontem, o tal do Hakuôki: Shinsengumi Kitan. E em japonês, o que muito me frustra porque não dá pra avançar praticamente nada em um jogo desse tipo sem ter vocabulário – e, no caso, vocabulário “de época”.
Daí, impaciente como eu sou, resolvi ver o anime que criaram baseado nesse jogo.

Hakuôki, uma resenha.
Tudo isso posto, resolvi fazer uma resenha.

Um resumo sem spoilers: Chizuru Yukimura vai para Quioto em busca de seu pai, um médico que sumiu em meio à confusão do fim do xogunato quando resolveu ir até a capital. Anoitece, e Chizuru (que aparentemente não sabe que depois de certo horário as coisas ficam meio tensas) acaba sendo perseguida por alguns samurai sem mestre arruaceiros que se interessam pela espada curta que ela carrega. Uma fugidinha daqui, outra dali, enquanto a mocinha acha um esconderijo precário, os seus perseguidores são atacados por guerreiros da Shinsengumi que estão aparentemente fora de si (= olhos vermelhos, cabelos brancos e risadinhas estridentes – “coelhinho da páscoa mode on”) atrás de sangue e de entranhas espalhadas pelo chão. Os guerreiros malucos, por sua vez, são eliminados por outros membros da mesma Shinsengumi, esses sim normais e, claro, lindos. Eles dão de cara com a menina aterrorizada pela carnificina e, como ela viu algo que não devia ter sido visto, eles decidem levá-la como prisioneira – até porque a coitada da Chizuru desmaia como toda boa mocinha indefesa.
Ela acorda no quartel-general da Shinsengumi, conhece todos os membros, conta que está à procura do pai e que não pode morrer antes de achá-lo, porque se não isso não é um otome game! Tcharam. Eles a deixam viver porque aparentemente também estão procurando o pai dela, um médico que desenvolveu algum tipo de remédio que cura e potencializa a força de quem o toma, mas tem efeitos colaterais terríveis. E o resto é spoiler. Se você ainda quer ver e acha que pode ter algo imprevisível na história, SAIA JÁ DESSE TEXTO!
 
Se não... Pode te aprochegar por aí, vivente, que ainda tem muito mate pra... matear. (/gauchismofail)

Várias coisas me fizeram ver esse anime: os homens bonitos; a questão da Shinsengumi e dos fatos históricos; a parte de fantasia; o harém inverso (8D); a parte do sangue; a parte do romance; a tensão gender bender inicial (sim, porque se eu fiz uma resenha sobre, significa que tem gender bender em algum lugar). As ferramentas estavam ali, mas é claro que a montagem nunca é boa o suficiente... 

A protagonista, Chizuru, é um pequeno pé no saco. Começando pelo primeiro spoiler, a mocinha tem sangue de oni (demônio, ogro, entidade fantástica japonesa), então ela tem aquela capacidade Wolverínica de se regenerar com uma rapidez impressionante. Ela também carrega aquela espada curta que, até onde nos disseram, é “herança do clã dos demônios do leste” e, portanto, tem um poder considerável. Mas ela é uma mocinha tradicional: fraca, inútil, que só grita e desmaia.
Apesar de estar ligada a toda essa questão de, hmm, saúde (filha de um médico, consegue se regerar...), ela é incapaz de oferecer apoio médico satisfatório para os membros da Shinsengumi (o que é uma burrice, porque a quantidade de fanservice possível seria insanamente maior se eles arrumassem isso...8D). Porque não, eles já tem um médico que cuida de tudo.
Além disso, a Chizuru tem uma espada foderosa, mas – sem brincadeira nenhuma – toda a santa vez que ela vai sacar a dita-cuja, aparece algum dos lindos homens da milícia e luta por ela. E apesar do fato de começar a viver entre a milícia e até PATRULHAR as ruas com eles, em momento algum a Chizuru faz o favor de treinar qualquer coisa que seja com aquela espada. Não. Ela varre o chão o episódio inteiro. D:
Mas não é só isso! Quando algum dos homens da Shinsengumi entra em batalha, ela corre atrás para quê? Para ficar gritando, distraindo os caras e atrapalhando a luta de forma geral. Em resumo, muita gente acaba morrendo para defendê-la. (Claro, é tudo desculpa do jogo/anime, porque historicamente falando eles morreriam da mesma forma.)

Nem o Saitou aguenta mais essa ladainha.
O grande spoiler é que o remédio que o pai da protagonista criou para o pessoal da Shinsengumi transforma os seus usuários permanentemente em Rasetsu, seres que são basicamente vampiros. Então, pouco a pouco, a Shinsengumi inteira vai virando uma tropa de vampiros.

Na sequência, acabamos conhecendo os vilões de verdade na história, que também são demônios. E eles, claro, estão atrás da Chizuru a fim de... hihihi... Ok, esse spoiler nem eu sou capaz de dar. Na verdade, o vilão principal, o Kazama, é o personagem que fala as coisas mais sãs de todos os episódios em relação à Chizuru.

Tipo isso.
A Naru Narusegawa dessa história, o bonitão principal, é o vice-comandante Toshizou Hijikata, baseado em uma personagem real, capitão da Shinsengumi - originalmente tido como um homem rígido e sério, que fazia papel de "mãe" porque o comandante Isami Kondou não tinha pulso firme com os subordinados. É ele quem propõe que eles deixem a moça viver ali. Ele é o típico personagem “príncipe atormentado”, que parece que não liga para a mocinha, mas se declara nos momentos cruciais. Na verdade, nessa primeira temporada (o anime tem 2 temporadas e mais uns episódios especiais de encheção) praticamente nada aconteceu. Não para os meus parâmetros. Não parece que ele finge que não se importa. Ele parece realmente não se importar. Mas eu também tenho problemas com protagonistas – os secundários e os vilões sempre parecem mais interessantes.

"Vou aprisioná-la e tratá-la com indiferença. E você vai me amar de qualquer jeito porque eu sou o protagonista."
O que me lembra do Hajime Saitou. Parece que os japoneses têm uma imagem bem consolidada da personagem histórica, e isso acaba refletindo na ficção. Vocês se lembram do Saitou em Rurouni Kenshin? Ele era cruel, frio, o típico cara que parece que está contra você, mas que acaba salvando o time em momentos-chave (Ikki? Magus?).  Desde a época de RK acho ele um personagem muito bem desenvolvido e muito interessante por si só. Parece que a figura histórica Hajime Saitou era um homem de poucas palavras, misterioso, sem muita paciência pra mimimi – e feio (D:). E ele foi um dos membros que sobreviveu. Mas o mais curioso é que até os diferentes designs do personagem são relacionados de certa forma.

Céus, até o tom de azul do cabelo já está consolidado!
Outro membro da Shinsengumi que sempre me despertou uma certa curiosidade foi o tal do Souji Okita. Na verdade, de novo, devo isso ao Nobuhiro Watsuki, que baseou o Soujirou Seta, um dos meus personagens favoritos, vilão da fase do Shishio, nessa personagem histórica. Souji Okita era um prodígio como guerreiro; antes dos 18 anos ele já havia mestrado e desenvolvido técnicas avançadas de espada. As representações midiáticas tendem a mostrar o Souji como um garoto (ele realmente era um dos mais jovens entre os membros da milícia) talentoso, calmo, gentil, “puro”, quase “feminino”. Em Hakuouki, ele é aquele personagem meio malandro, que ri de tudo, o que foge um pouco das representações da personagem histórica. Souji Okita morreu jovem, aos 25 anos, mas não foi “de batalha”; ele contraiu tuberculose.

Not pictured: tuberculosis.
Enfim, acho que o que atrai tanta atenção sobre a Shinsengumi é o fato de ela ter sido composta por personalidades, por guerreiros inegavelmente talentosos e interessantes. E com personalidades distintas o suficiente para fazerem parte de um otome game como tipos.:D

Vi todos os 12 episódios em uma única madrugada porque a expectativa que a série criou em mim foi enorme – mas acabou sendo perdida no meio do caminho. Há uma tentativa de equilibrar as temáticas, mas eu sinto que isso torna tudo mais morno: a rigor, essa não é uma série sobre História, mas dá pra sentir a preocupação meio exagerada em situar os conflitos e as batalhas do bakumatsu, por exemplo, enquanto a parte de ficção e de fantasia fica relegada a um plano secundário.

Parece que faltam boas lutas, faltam boas cenas de romance, faltam boas cenas de humor e falta desenvolvimento na questão dos demônios.  A série é, como eu já disse, morna – e eu me pergunto porque criei tanta expectativa em cima de um otome game, no qual as situações são indefinidas por natureza, já que é a jogadora quem escolhe o final...
E por mais que eu ache interessante todos os conhecimentos sobre o bakumatsu, é muito difícil dissociar o que é liberdade artística e o que é História, motivo pelo qual acho que seria interessante se a questão histórica fosse chutada pra escanteio e a questão fictícia tomasse conta.

Senhoras e senhores: a verdade.
 Não digo que Hakuôki não valha a pena. Tem que haver uma explicação para eu estar me torturando com a segunda temporada, esperando o momento em que a Chizuru vai sacar aquela espada maldita, entrar em modo berserk e retalhar todos os inimigos, ou o momento em que o Hijikata vai tomar alguma atitude romântica mais... mmm, ativa em relação a ela. O anime tem o seu valor e até, vejam só, uma precisão histórica. Mas não é primordial. Vejam se vocês tiverem tempo. Ou se estiverem em busca de fanservice para meninas.

(Spoiler: Na segunda temporada, a moral é que os personagens vestem roupas ocidentais. E o Hijikata corta o cabelo e se torna igual ao Sebastian de Kuroshitsuji. E não fui só eu que percebi.)


Mas meu interesse em Shinsengumi perdura, e com todas as pesquisas feitas, fiquei com vontade de ver Peacemaker Kurogane, Kaze Hikaru e o dorama de época Shinsengumi! (estrelado por ninguém menos que o Katori “Shingo Mama”!).


Este cara.