Destino essa pequena carta a aqueles que culpo diretamente pelo meu não-suicídio: minha família e amigos.
Informo-os desde já os motivos pelos quais venho me não-suicidando. Começando pela razão supracitada: o fato de vocês serem tão imperfeitos e não me compreenderem durante cem por cento do tempo. Isso me obriga a procurar cada vez mais pessoas que tenham algo em comum comigo. Pessoas que preencham as lacunas deixadas por vocês. Assim, meu círculo e minha variação de tipos de amigos aumenta, do mesmo modo, cada vez mais; conseqüentemente crio mais laços, algo que praticamente me obriga ao não-suicídio!
Outro motivo para esse ato (ou não-ato) é o mundo. O mundo é deprimente, considerando sua situação geral. Veja bem: as pessoas se odeiam, vivem na miséria material e na miséria intelectual ou espiritual. Elas fazem mal aos outros e a si próprias e depois não entendem porque suas vidas andam para trás (ou simplesmente param). Aí sinto um aperto imenso no coração, um misto de raiva e vontade de fazer algo para melhorar o mundo – então vem à minha cabeça a louca idéia do não-suicídio, novamente...
O que também me provoca essa vontade insana é a minha própria situação. Não nasci rica, superdotada, bonita e plenamente satisfeita na vida. E, como se não bastasse, o passar do tempo não me espera decidir por onde começo! Agora vocês entendem, não é? É inevitável essa fixação pela idéia de não conceder a morte a si mesmo. Acabo sentindo um crescente desejo de buscar tudo o que não tenho...
Por último motivo – e talvez seja este o mais poético -, tomo a janela de meu apartamento de terceiro andar. Neste exato momento, olho-a com um pensamento insensato. Lembro-me de pessoas que vivem a alguns seis ou sete andares acima do meu e também olham para a janela, mas com outro tipo de idéia. E então reflito: onde está a poesia em mergulhar no concreto sujo das ruas, em meio a carros barulhentos e transeuntes indiferentes? Ainda prefiro minha idéia não-suicida de olhar para o céu e imaginar mil coisas que possam me ajudar a alcançar as nuvens alaranjadas do pôr-do-sol, sem ter que para isso chegar perto do trânsito e dos passantes.
É, parece-me mais razoável o meu doido suicídio ao contrário. Talvez meu próximo passo seja propor um não-suicídio coletivo...
Sem mais considerações a fazer, saúdo-os com um enérgico “olá, mundo cruel; aqui estou para desafiá-lo (e sensibilizá-lo, se o senhor permitir)”...
(Publicado na Antologia do Velho Casarão da Várzea, impresso do CMPA, no ano de 2006, quando eu estava no 1º ano do Ensino Médio.)
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Texto antigo, mas vale ainda.
Ainda mais depois que duas cadeiras diferentes decidem cobrar "Os Sofrimentos do Jovem Werther", do seu Goethe...:S
O Werther é um chato, assim como todos os indivíduos com tendências suicidas. Tanto que a minha interpretação para o suicídio do Werther não tem nada a ver com o amor impossível pela Charlotte. É só egoísmo mesmo. Tanto que ele resolve se matar próximo ao Natal, com uma sordidez impressionante, pra dar um impacto maior. Ele chega a se regozijar em antecipação só de pensar nas lágrimas que a sua querida Lotte vai derramar por ele. Ah, vá a merda. Isso não é amor.:P
Mas esse até é um bom livro. Tem alguns momentos de reflexão e de análise do amor bastante encantadores.:)
Jaa!o/
Informo-os desde já os motivos pelos quais venho me não-suicidando. Começando pela razão supracitada: o fato de vocês serem tão imperfeitos e não me compreenderem durante cem por cento do tempo. Isso me obriga a procurar cada vez mais pessoas que tenham algo em comum comigo. Pessoas que preencham as lacunas deixadas por vocês. Assim, meu círculo e minha variação de tipos de amigos aumenta, do mesmo modo, cada vez mais; conseqüentemente crio mais laços, algo que praticamente me obriga ao não-suicídio!
Outro motivo para esse ato (ou não-ato) é o mundo. O mundo é deprimente, considerando sua situação geral. Veja bem: as pessoas se odeiam, vivem na miséria material e na miséria intelectual ou espiritual. Elas fazem mal aos outros e a si próprias e depois não entendem porque suas vidas andam para trás (ou simplesmente param). Aí sinto um aperto imenso no coração, um misto de raiva e vontade de fazer algo para melhorar o mundo – então vem à minha cabeça a louca idéia do não-suicídio, novamente...
O que também me provoca essa vontade insana é a minha própria situação. Não nasci rica, superdotada, bonita e plenamente satisfeita na vida. E, como se não bastasse, o passar do tempo não me espera decidir por onde começo! Agora vocês entendem, não é? É inevitável essa fixação pela idéia de não conceder a morte a si mesmo. Acabo sentindo um crescente desejo de buscar tudo o que não tenho...
Por último motivo – e talvez seja este o mais poético -, tomo a janela de meu apartamento de terceiro andar. Neste exato momento, olho-a com um pensamento insensato. Lembro-me de pessoas que vivem a alguns seis ou sete andares acima do meu e também olham para a janela, mas com outro tipo de idéia. E então reflito: onde está a poesia em mergulhar no concreto sujo das ruas, em meio a carros barulhentos e transeuntes indiferentes? Ainda prefiro minha idéia não-suicida de olhar para o céu e imaginar mil coisas que possam me ajudar a alcançar as nuvens alaranjadas do pôr-do-sol, sem ter que para isso chegar perto do trânsito e dos passantes.
É, parece-me mais razoável o meu doido suicídio ao contrário. Talvez meu próximo passo seja propor um não-suicídio coletivo...
Sem mais considerações a fazer, saúdo-os com um enérgico “olá, mundo cruel; aqui estou para desafiá-lo (e sensibilizá-lo, se o senhor permitir)”...
(Publicado na Antologia do Velho Casarão da Várzea, impresso do CMPA, no ano de 2006, quando eu estava no 1º ano do Ensino Médio.)

Texto antigo, mas vale ainda.
Ainda mais depois que duas cadeiras diferentes decidem cobrar "Os Sofrimentos do Jovem Werther", do seu Goethe...:S
O Werther é um chato, assim como todos os indivíduos com tendências suicidas. Tanto que a minha interpretação para o suicídio do Werther não tem nada a ver com o amor impossível pela Charlotte. É só egoísmo mesmo. Tanto que ele resolve se matar próximo ao Natal, com uma sordidez impressionante, pra dar um impacto maior. Ele chega a se regozijar em antecipação só de pensar nas lágrimas que a sua querida Lotte vai derramar por ele. Ah, vá a merda. Isso não é amor.:P
Mas esse até é um bom livro. Tem alguns momentos de reflexão e de análise do amor bastante encantadores.:)
Jaa!o/